E porque citamos e lemos Waly Salomão no Radiola Literária de hoje nas ondas da Rádiocom, trago pra cá uma pequena parcela de sua irreverência:
Novelha cozinha poética
Pegue uma fatia Theodor Adorno
Adicione uma posta de Paul Celan
Limpe antes os laivos de forno crematório
Até torná-la magra-enigmática
Cozinhe em banho-maria
Fogo bem baixo
E depois leve ao Departamento de Letras
Para o douto professor dourar
Waly Salomão
Buscando mais informações sobre esse poema, encontrei uma crítica literária que pareceu-me interessante, foi publicado originariamente na revista Cult em 2001 e retirei esta parte que nos basta por aqui:
Tais afirmações, tomadas ao pé da letra, são redutoras, e Waly sabia disso. Seu propósito foi questionar, valendo-se do exagero, a dissociação acadêmica entre poesia e vida, o desconhecimento do biográfico a pretexto de examinar a literatura em sua autonomia.
Algo semelhante ao que, para tomar um exemplo de maior envergadura, o surrealista português Mário Cesariny fez em O Virgem Negra - Fernando Pessoa explicado às Criancinhas Naturais e Estrangeiras por M. C. V. (Assírio & Alvim, 1996) tripudiando sobre sua memória para mostrar que poesia é feita por gente de carne e osso, e não uma escritura em abstrato, um fenômeno exclusivamente da linguagem.
O próprio Waly, no depoimento aqui citado, comentava um poema seu, Novelha cozinha poética, questionado por exibir anti-semitismo e mau-gosto (Por Manuel da Costa Pinto no jornal Folha de S. Paulo, Caderno Mais!, 02/07/2000, e por Suzana Scramin na edição aqui citada de Babel, ambas as vezes no contexto, esclareça-se, de observações favoráveis ao livro do qual faz parte, Tarifa de Embarque). Esclarece que o fez pegando um tipo de poeta que é totalmente biônico, fabricado nos departamentos de letras das universidades, absolutamente despido de qualquer experiência e se vangloriando disso. Meras estações repetidoras de esquemas, de professores, de departamentos de Letras. A referência à fatia de Teodor Adorno, à posta de Paul Celan e à limpeza dos laivos de forno crematório seria uma sátira aos que reproduzem idéias e estilo desses e de outros autores, sem terem passado, nem de longe, pelas mesmas experiências.
Algo correlato ao que Roberto Piva diz neste poema: Dante/ conhecia a gíria/ da Malavita/ senão/ como poderia escrever/ sobre Vanni Fucci?/ Quando nossos/ poetas/ vão cair na vida?/ Deixar de ser broxas/ pra serem bruxos? (o poema está em Ciclones, republicado em Estranhos sinais de Saturno, Globo, 2008)
Novelha cozinha poética
Pegue uma fatia Theodor Adorno
Adicione uma posta de Paul Celan
Limpe antes os laivos de forno crematório
Até torná-la magra-enigmática
Cozinhe em banho-maria
Fogo bem baixo
E depois leve ao Departamento de Letras
Para o douto professor dourar
Waly Salomão
Buscando mais informações sobre esse poema, encontrei uma crítica literária que pareceu-me interessante, foi publicado originariamente na revista Cult em 2001 e retirei esta parte que nos basta por aqui:
Tais afirmações, tomadas ao pé da letra, são redutoras, e Waly sabia disso. Seu propósito foi questionar, valendo-se do exagero, a dissociação acadêmica entre poesia e vida, o desconhecimento do biográfico a pretexto de examinar a literatura em sua autonomia.
Algo semelhante ao que, para tomar um exemplo de maior envergadura, o surrealista português Mário Cesariny fez em O Virgem Negra - Fernando Pessoa explicado às Criancinhas Naturais e Estrangeiras por M. C. V. (Assírio & Alvim, 1996) tripudiando sobre sua memória para mostrar que poesia é feita por gente de carne e osso, e não uma escritura em abstrato, um fenômeno exclusivamente da linguagem.
O próprio Waly, no depoimento aqui citado, comentava um poema seu, Novelha cozinha poética, questionado por exibir anti-semitismo e mau-gosto (Por Manuel da Costa Pinto no jornal Folha de S. Paulo, Caderno Mais!, 02/07/2000, e por Suzana Scramin na edição aqui citada de Babel, ambas as vezes no contexto, esclareça-se, de observações favoráveis ao livro do qual faz parte, Tarifa de Embarque). Esclarece que o fez pegando um tipo de poeta que é totalmente biônico, fabricado nos departamentos de letras das universidades, absolutamente despido de qualquer experiência e se vangloriando disso. Meras estações repetidoras de esquemas, de professores, de departamentos de Letras. A referência à fatia de Teodor Adorno, à posta de Paul Celan e à limpeza dos laivos de forno crematório seria uma sátira aos que reproduzem idéias e estilo desses e de outros autores, sem terem passado, nem de longe, pelas mesmas experiências.
Algo correlato ao que Roberto Piva diz neste poema: Dante/ conhecia a gíria/ da Malavita/ senão/ como poderia escrever/ sobre Vanni Fucci?/ Quando nossos/ poetas/ vão cair na vida?/ Deixar de ser broxas/ pra serem bruxos? (o poema está em Ciclones, republicado em Estranhos sinais de Saturno, Globo, 2008)
Texto na íntegra aqui: http://revista.triplov.com/numero_01/Claudio_Willer/Critica.htm
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