quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A força das águas

Arrumando as coisas e terminando umas encomendas agora a pouco no ateliê, assistia/ouvia Amor em quatro atos, programa da rede globo inspirado nas canções de Chico Buarque. A canção de hoje é aquela assim: te perdoo por me amares demais... por morreres de rir...te perdoo por me trair... Linda como quase todas as canções do Chico. Bom texto, mas, não prestei atenção de quem é a dramaturgia, enfim, gostei do que vi/ouvi. Mas o que me levou a escrever neste instante, já quase uma e meia da madrugada, foi sobre o que vi depois, no jornal da globo; as catástrofes na região serrana do Rio de Janeiro. Fiquei assustada, a sensação que me vem é de medo e também de desânimo; por causa da impotência, nada se pode fazer, eu cá na minha casa, com um certo conforto, segura, perto de mim está minha família e é tão triste, tão duro pra essas pessoas que perdem suas casas, parentes, amores, suas crianças. É desolador. A repórter diz o que muitas pessoas dizem também (minha mãe tinha falado o mesmo uns minutos antes): todo ano é a mesma coisa! Não, parece que está ficando pior. A força e o volume das águas está muito maior. A cena que vem logo após as explicações geológicas para o que está acontecendo com Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo (já andei de teleférico naquele morro que desabou) é do resgate de uma jovem senhora agarrada a um cachorro pretinho numa parte em tijolos do que parecia ser uma casa bem no meio da correnteza forte e imensa do rio santo antônio; ela segura firme o cão e os vizinhos da casa em frente na parte mais alta jogam pra ela uma corda e gritam, gritam pra ela se segurar na corda, meu deus...que desespero dá de ver essa cena; ela se agarra na corda e cai na água junto do cão, mas, ele é levado pela correnteza, ela fica firme na corda, se mantém lá e eles vão puxando, gritando o nome dela, ou apelido, não guardei qual é, até o alto da casa, salva. Paro pra pensar, pra chorar, pra pedir proteção, pra agradecer, pra questionar e escrever... pra seguir pensando juntos; será que a força das águas está mesmo maior? Por que? Como prevenir? O que fazem para orientar pessoas num estado de calamidade como esse? Posso ajudar em alguma coisa? Como? Estou em Minas... O que fica? Como ficam essas pessoas? Desespero, no desamparo.
Rememoro a cena final do programa com a canção do Chico; o marido traído busca a aliança que sua mulher deixou pra trás com o eventual amante, a cena fecha na mão agarrando a aliança e ele desce pro carro onde ela o espera, coloca a aliança novamente no dedo dela e eles se beijam deliciosamente.
E acabo ficando nesse lugar, do deleite, impotente, escapando da realidade.

Um comentário:

  1. Ju, impotência total dos moradores, eleitores, contribuintes. Falta de aviso, negligência das autoridades. Onde estão os deputados nessa hora, que detêm verbas e verbas e nesse momento, como não estão em Brasília, dizem estar "nas bases"? Cadê o dinheiro que eles recebem para melhorar a vida do cidadão, que lhes dá conforto, mordomias e regalias desnecessárias???
    Enquanto isso, milhares de flamengistas se reúnem na Gávea, ali mesmo no Rio de Janeiro, para saldar o Ronaldinho gaúcho, novo jogador do time... no Rio Grande do Sul, a entidade que leva seu nome, criada para ajudar crianças carentes está fechando as portas!
    Que país e esse???
    Brasil, mostra sua cara, gritava Cazuza.
    Brasil! Brasil!!! Socorro!

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