Acabo de chegar em casa após uma palestra. No recinto lotado com pessoas em pé, pelos corredores, gente no segundo piso só a ouvir pelas caixas de som, sem ver o palestrante. Mais ou menos 180 pessoas. Atentei pra uma coisa, oitenta por cento, mulheres. Pensei: é interessante observar isso, nós estamos tão ávidas, tão atentas assim por uma palestra, uma audição? Não, não pensei tudo isso, isso digo aqui, quero dizer, escrevo agora, o que disse foi: Nós, mulheres, estamos tão mais presentes e atentas, não é? Muito burburinho, muita conversa, até que a presidente da mesa pediu que fôssemos nos aquietando para darem início a palestra. Vagarosamente o silêncio aconteceu. Ele começou agradecendo a presença de todos e foi tirando de sua boca uma poesia linda, linda:
Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.
Mário Quintana, poeta das terras de cá. Os olhos já me enchiam de lágrimas...
E palestrou, palestrou...conflitos e desafios da modernidade, sim, estamos acelerados, sim, compramos mais do que necessitamos, sim, temos mais do que precisamos, fazemos cinco coisas ao mesmo tempo e ao final do dia, alguma coisa ainda ficou pra amanhã, sim, temos muito pra ser felizes e não somos. Pensei: desculpe-me, mas, eu sou feliz e agradeci por ser e estar ali ouvindo aquela palestra. Ouvir.
É necessário estar atento para mudar, é necessário caminhar junto com o tempo, com o nosso tempo, aquele em que se está inteiro, uma coisa de cada vez, e não nessa superficialidade e fugacidade. Precisamos de mais silêncio, estamos num mundo cheio de barulhos, ruídos. Que ironia, no mundo moderno, tão avançado, temos tecnologia pra nos facilitar a vida e ganharmos mais tempo, mas, não temos tempo...não dá tempo, estamos sempre atrasados... Ele palestrou, palestrou, fez citações diversas: onde desenvolve-se o amor não há medo... Olhai os lírios do campo...
Falou também dos excessos de alimentação, da necessidade biológica de prestarmos atenção aos sinais que o nosso corpo nos dá, de digestão e indigestão, de digerir também os pensamentos, dar tempo a eles, falou da necessidade de mudar certos hábitos que não nos fazem bem e insistimos muitas vezes em mantê-los e nos entupimos em remédios, enquanto, se mudássemos os maus hábitos, que nós sabemos quais são, o remédio talvez não fosse necessário. Consciência de cada um.
Uma consciência livre, contou uma história antiga de um rei arrogante e de um sábio bondoso que podia prever o futuro, da maldade humana, dos desenganos, das companhias ruins que estão em uma sintonia diferente da nossa e a gente permanece ao lado e perto delas, daqueles momentos que é necessário estar só consigo mesmo, só pra refletir um pouco, sem nada a fazer, nada mesmo, nada de tv, livro, celular, computador, nada, silêncio e você, um pouco todo dia. Porque não? Você pode.
Porque culpar-se? Porque temer? Nada vem para ti ao acaso. Nada. Tudo tem o seu tempo a sua hora. Aquieta-se. E terminou a palestra soltando de sua boca com firmeza leve palavras de Madre Tereza de Calcutá:
As pessoas são irracionais, ilógicas e egocêntricas.
Ame-as mesmo assim.
Se você tem sucesso em suas realizações,
ganhará falsos amigos e verdadeiros inimigos.
Tenha sucesso mesmo assim.
O bem que você faz será esquecido amanhã.
Faça o bem mesmo assim.
A honestidade e a franqueza o tornam vulnerável.
Seja honesto mesmo assim.
Aquilo que você levou anos para construir,
pode ser destruído de um dia para o outro.
Construa mesmo assim.
Os pobres têm verdadeiramente necessidade de ajuda,
mas alguns deles podem atacá-lo se você os ajudar.
Ajude-os mesmo assim.
Se você der ao mundo e aos outros o melhor de si mesmo,
você corre o risco de se machucar.
Dê o que você tem de melhor mesmo assim.
Bom, depois de escrever tudo isso, preciso dizer algo mais?
Ah, sim, esta palestra nos foi ofertada numa Casa espírita, uma casa fraterna, onde se pretende que as pessoas encontrem acolhimento, amor e um pouquinho de paz.
Este blog surgiu do desejo de partilhar memórias em torno da culinária, temperadas com literatura e outras artes. Inspirado na feitura do livro artesanal: Memória Culinária: Coisa de Vó, escrito e editado por Junelise Pequeno Martino, essa que vos escreve agora. E, se tiveres gana de me escrever: memoriaculinaria@gmail.com
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Ontem fui à feira
registros meus - 2014 - largo vernetti Ontem fui à feira. Este texto foi escrito em 2014 quando eu ainda vivia em Pelotas e estava guar...
-
Dizem que o melhor doce é o doce de batata doce. Aqui no sul é muito comum na mesa gaúcha o consumo de batata doce. Nas feiras e mercadin...
-
Ingredientes: 200gr de manteiga 1 xícara de chá de açúcar mascavo 1 lata de leite condensado 2 xícaras de chá de farinha de trigo 1 colher d...
JU, muito bom esse seu compartilhar. na medida do possível, tenho me desacelerado.. correr pra quê?
ResponderExcluirSigo firme em meus planos... preciso parcerias, mas vai dar certo! Elas virão no tempo certo. Beijos procê,